Trip Guarda #6 - O que tava Guardado
Último dia na guarda, decidi acordar cedo para ir surfar, a ideia era evitar o crowd. A previsão era o mar dar uma diminuída. Fui olhar as câmeras então, mas não parecia ter diminuído tanto.
Não pensei muito, e fui logo comer algo leve, comi umas bananas e tomei bastante água, vesti a roupa de borracha, passei parafina e estava pronto pro surf. Dessa vez aprendi e fui de chinela pro surf pra evitar o chão gelado e conseguir ir/voltar mais rápido também.
Parti então para a Praia da Guarda, ia tentar fazer do mesmo jeito que fiz a primeira vez: atravessando o rio. Mas, quando cheguei na beira do rio vi as ondas de longe e pareciam grandes e pesadas, deu uma vontadezinha de desistir, porém decidi tentar surfar ainda. Mas vi algumas pessoas entrando mais à frente, por outra parte de terra que fica mais próximo ao costão.
Decidi dar a volta e seguir pela trilha do costão, pois já tinha feito a trilha e sabia que dava pra descer para aquela parte da praia, e já adianto foi a decisão correta. Seguindo pela trilha cheguei nessa outra parte da praia que fica bem mais próximo do pico e do canal que tem ao lado do costão. Consegui entrar pelo canal muito facilmente, só tive que esperar a série passar(sempre muito importante analisar isso antes de começar a remar) e foi sucesso.
Posso dizer sem medo que esse foi o melhor mar que já vi de perto: ondas grandes, alinhadas e com muita força. O mar também estava mais marrom, pelo que vi a água dessa cor é mais comum nessa época do ano, principalmente com swell de leste.
Ondas no Costão da Guarda(foto ilustrativa, mas tava maior que isso, mas nao tão perfeito)
Como todos os outros surfs dessa viagem, tive dificuldades para me achar no mar. O fator medo estava começando a me afetar de novo, passei um tempinho analisando os outros surfistas. Tentei pegar algumas ondas mas, estava com medo de remar na parte mais crítica da onda e logo entendi, e na real sempre soube que se quiser pegar onda em um mar desse tipo é necessário remar na parte crítica, caso contrário a onda não vai ter força pra me levar.
Decidi descer um pouco mais e tentar pegar uma onda mais embaixo. A estratégia deu certo, engoli o medo, e decidi que ia pegar uma onda. Esperei a onda certa vir , aquela que já vem com o seu nome, remei pro crítico da onda, sem pensar em mais nada, era uma esquerda. Consegui entrar na onda, consegui fazer o drop na parede já, ajustei minha base e pronto, estava surfando aquela onda. Foi uma sensação muito boa, pois realmente consegui ter o controle da prancha.
Segui acelerando na onda e seguindo o fluxo. Não consegui fazer manobras, pois não consegui me encaixar em nenhuma sessão , e na que eu escolhi não tive coragem de realizar a manobra pois, na hora julguei que era uma junção muito crítica. Naquele momento não importou muito porque o fato de ter conseguido pegar a onda em si já foi o bastante.
E o melhor de tudo, agora estava com a confiança lá em cima, e sabia que era possível pegar mais ondas. Continuei com a mesma abordagem e funcionou novamente, e dessa vez peguei uma direita. Remando no crítico da onda de novo, dessa vez a onda era um pouco mais cavada, mas o drop fluiu perfeitamente.
Sabe aquele drop que tudo encaixa perfeitamente? A borda da prancha encaixou perfeito na parede da onda, consegui descer mais a onda e dar uma primeira acelerada, a parede da onda ia se formando na minha frente, enorme, maior do que eu. Conseguir coordenar os braços com o movimento do corpo o que facilitou essa aceleração
Mas então comecei a perceber que eu estava começando a correr mais que a onda. Isso é algo que tenho tentado focar bastante, de começar a perceber mais o ritmo da onda.
Tentei então dar uma desacelerada, mas meio que sem querer já fui emendando com uma cavada na base da onda, o que me levaria a batida no lip da onda. Dei sequência a manobra, mas não consegui realizar pois acho que acabei em uma sessão da onda muito deitada, e minha manobra foi muito curta, deveria ter alongado mais.
Mas olhando agora, acho que essa não era a manobra que a onda pedia, devia ter tentado voltar mais ao início da onda, com um cutback para então continuar e achar outra sessão mais adequada. Aprendizados.
Nessa manobra incompleta, acabei levando o caldo junto com o Lip, e a onda me jogou então com prancha e tudo com muita força para baixo. Foi o maior caldo da viagem, tive sorte de não bater na prancha. Ainda encostei no fundo de areia, mas tentei manter a calma pois o caldo geralmente não é tão longo. Deu tudo certo.
Após essa onda, tive que voltar para a areia perto da boca do rio, e então caminhar de novo até o canal onde entrei, vi que as pessoas estavam fazendo isso, pois a remada de volta ao pico podia ser bem cansativa ou impossível.
Mas esse segundo round não foi muito bom, não consegui pegar ondas e basicamente fiquei tentando remar em algumas ondas, enquanto tentava escapar das séries que vinham ao fundo. Depois de muita batalha mental sobre desistir vs tentar pegar a saideira, decido que vou tentar sair logo mesmo.
Mas pra minha surpresa vi um acontecimento que me marcou mais ainda, o aparecimento de outra Baleia. Mas dessa vez ela não acenou simplesmente, ela estava dando pulos na água, foi mágico ver ela saltando e depois toda aquela água que jorrava devido a seu tamanho enorme. Sem palavras pra descrever. Eu fui eu tava.
Baleia Franca dando um pulinho
Aceitei isso como um sinal e decidi sair remando mesmo, porque o frio já tinha tomado conta do meu corpo também e minha cabeça já estava mais do que feita.
Blessed.