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Noronha 2.0

Cover Image for Noronha 2.0
Matheus Fernandes
Matheus Fernandes

Acabo de voltar da segunda temporada em Fernando de Noronha, e como faz diferença já conhecer o lugar e até certo ponto “saber” o que esperar.

Entendo também por que sempre perguntam quantas temporadas vocês tem em Noronha? É um lugar muito mágico que cria um sentimento para aqueles em que ela toca, de querer voltar e sentir mais uma vez. Por isso que existem pessoas com 20+ temporadas em Noronha.

Spoiler Spoiler

A CHEGADA

Dessa vez fomos ainda mais abençoados com uma ótima previsão e ondas melhores ainda. Dias com pouco vento e formação perfeita da onda. E esse foi ate um dos problemas pois pegamos dias realmente de mar grande e forte, mas dos problemas o menor né, pior seria se fosse o contrário e o mar estivesse uma piscina.

Previsao Previsao das ondas

O SURF

Não tivemos muito tempo para nos acostumar com a onda e estudar ela com calma pois chegamos no meio do swell. Pegamos um mar grande nos primeiros dias e ele foi baixando mais para o final da viagem.

Quem treinou treinou, e quem tava preparado aproveitou. Isso é importante para lembrar de estar sempre pronto, o ideal é sempre tá na agua para quando essas oportunidades aparecerem você estar apto a desfrutá-las.

Cheguei confiante para a viagem, apesar de não ter pegue muitos mares tubulares entre a viagem do ano passado e essa. Mas tive um ultimo treino legal no Pico das Almas, um dia bem liso e tubular mas que só durou uns 40 minutos antes das ondas acabarem.

Mas estava feliz com meu surf ultimamente, e fiz outras viagens para mares não tubulares, mas peguei ondas com um bom tamanho. As minhas 2 pranchas estavam bem encaixadas no meu pé e sentia confiança nelas.

Chegou então o primeiro surf da trip, peguei boas ondas , fiz um drop de uma direita bem no critico, quase vertical , foi a saideira . Tava bem feliz e ansioso pros próximos dias, mas a previsão era aumentar ainda mais, mas sem problema vamo pra cima.

Previsao Drop

Previsao Onda

Previsao

Mas conforme o mar foi aumentando ao longo dos dias, eu senti um pouco da minha confiança estremecendo com a força das ondas. Se voce começa a pensar se devo ou não dropar essa onda, voce perde um pouco da entrega 100% que esse tipo de onda precisa, uma hesitação de 0,5 segundos é o bastante para voce perder a onda ou pior tomar um caldo numa situação bem desconfortável e perigosa.

Um pequeno aumento das ondas

Por isso acho que no meio da trip , acho que não surfei como eu gostaria nem queria, mas ainda. Demorei um tempo ao voltar para o 100% em relação a encarar as ondas.

O unico meio de perder o medo

O mais engraçado é que vendo as imagens e videos agora, sempre parece que nem era tao grande e assustador assim. Acho que esse é parte do processo que precisamos passar, com certeza subi um nível a mais em relação a ter mais confiança em um mar parecido ou pior que esse.

Feliz com essa base na prancha

Pra piorar logo após a primeira noite de sono, acordei com uma dor na garganta, não tenho costume e nem gosto de dormir no ar condicionado pois isso sempre acontece comigo. Me mantive a base de remédios, pastilhas para a garganta e muita agua, cheguei a ficar sem voz 1 dia me virando basicamente na mimica. Mas por sorte esse foi o único sintoma, não senti febre nem fraqueza então acho que não afetou tanto meu surfe.

Acho que o 3 Dia foi o maior de todos, consegui fazer o surf de manhã cedo e garanti meu dia de surf. Seguimos o cronograma normal de voltar para tomar o café reforçado e então dar aquela descansadinha pro proximo surf.

Chegando na Cacimba já dava pra ouvir de longe o barulho das ondas. Não tirei nem a prancha do buggy por que não sabia se ia usar ela agora e então fomos dar o confere nas ondas.

Digo sem medo, aquelas foram as maiores ondas que já vi presencialmente. O Itim já foi logo pegar a prancha e se preparar para entrar e o Kaio foi atrás de uma sombra para se posicionar e pegar as imagens do Surf.

Depois que o Itim entrou no mar, fui atrás de uma sombra também para poder ver o surf mais de perto e de um angulo melhor, foi a melhor decisão pois o show de surf foi grande.

Me senti vendo Pipeline de perto, o mar estava gigante e tubular, mas a onda também estava bem rápida e difícil, como diz o Itim o mar estava faixa preta.

Praticamente só os locais e os profissionais estavam indo nas ondas. O Itim mesmo levou altas vacas que nunca tinha visto ele tomar, provando que ele ainda é um ser humano e que ele também leva vaca como a gente, o detalhe é que a onda precisa ser umas 10x maior e mais difícil

Ver aquela sessão de surf de camarote foi uma experiencia incrível, e me fez ter a certeza de que ainda bem que não entrei. No meio da sessão veio uma série lá de dentro, que varreu todo mundo do mar até mesmo quem estava la dentro na laje.

Essa hora foi caos e salve-se quem puder, tal hora estavam todos na espuma mais proximo da beira do mar. Vários streps quebrados e pessoas saindo do mar depois dessa. Durante sessão contei pelo menos 3 pranchas partidas ao meio também.

Depois desse dia o mar foi baixando , mas ainda rendeu mais dias de altas ondas, parecido com os primeiros dias. Consegui fazer outra sessão de surf boa, e que me fez recuperar a confiança nas ondas renovo. Geralmente é assim, basta 1 sessão de surf ou até mesmo 1 onda pra tudo ficar bem e você esquecer o que quer que fosse que lhe afligia.

Pra variar, e correndo o risco de parecer mentira de surfista, mas minha melhor onda tubular não foi completamente registrada. Tenho o inicio mas não o final. Passei a viagem tentando perder o medo de "morrer dentro" do tubo. Que basicamente é tentar ficar o maximo de tempo no tubo mesmo sabendo que a onda vai fechar.

Nessa ultima sessão da cacimba acho que consegui pegar minha melhor onda morrendo dentro do tubo, saí querendo ver o resultado, mas nosso filmmaker Kaio, falou que durante a filmagen da onda, o cara de alguma das barracas que ficam na cacimba colocou uma monte de cadeiras bem no meio da filmagem.

Parece brincadeira mas não é.

O começo de um sonho

O sonho que ficou no sonho

Pra finalizar com chave de ouro tivemos a chance de surfar em uma praia que ainda não havia surfado, desbloqueando mais um pico pra conta.

Era o ultimo dia da trip mas nosso vôo de volta era somente a tarde às 16:20, conseguimos encaixar 2 surfs nesse dia. Tivemos aquele surf garantido na cacimba cedinho antes do café. Voltamos, tomamos café , deixamos tudo o mais arrumado possível para a viagem, deixei separada somente a prancha e a roupa que ia usar no proximo surf.

A ideia era pegar o buggy e ir dar uma olhada na praia do meio e caso não estivesse bom, iriamos para a conceição. Na minha cabeça tava certo que o surf ia ser na praia da conceição, por que ja passamos outras vezes na praia do meio mas nunca surfamos lá, mas para minha surpresa o Item deu a chamada para irmos surfar na Praia do Meio

Descemos para a praia arrumamos a prancha e partimos para a agua, fui o primeiro a entrar no mar. Tava chegando no outside e veio uma esquerdinha, nem deu tempo de descansar virei a prancha e remei nela. Foi uma onda boa, abriu consegui dar 2 manobras de backside.

A onda aqui é mais tranquila, acho que depois de 1 semana surfando na cacimba qualquer outra onda fica mais tranquila na verdade. A onda ali era gostosinha de surfar, consegui fazer um surf que não tinha conseguido fazer na ilha ainda, consegui imprimir meu surf na onda e executar as linhas que eu imaginava.

Acho que o principal motivo para isso foi que consegui manter a calma, estava bem tranquilo e só aproveitando a onda, sem o medo de a onda quebrar em cima de mim, sem aquele medo que a cacimba proporciona. Havia alguns sessões mais rápidas da onda , mas nada comparável a cacimba.

Saí com o sentimento de querer surfar mais ondas assim, onda mais extensa e abrindo uma parede manobrável para realmente treinar e encaixar as manobras.

A ILHA

A sensação de estar de volta ali na Ilha foi muito legal, já estava antecipando essa viagem desde que voltei da primeira vez, querendo viver mais dias ali.

E se na primeira vez o sentimento que prevalecia era o de ansiedade para conhecer o inesperado e o que ele pode oferecer, dessa vez o que prevaleceu foi o de querer vivenciar o que já conhecia, mas com mais calma e segurança , tentei acalmar mais a mente e não tentar ir com sede demais ao pote.

O simples fato de conhecer como a ilha funciona, como é o transporte na ilha, onde ficam os picos, onde almoçar, onde comprar agua(item essencial em Noronha), a cacimba, e tudo mais que vivi na primeira temporada da ilha, já te deixa mais calmo e com um sentimento de está tudo sob controle, agora é só aproveitar e deixar a ilha fazer sua mágica.

Faz pouco tempo que venho tentando mudar a relação com o surf, no sentido de tentar não ficar tão bitolado e aproveitar mais os locais que conheço através do Surf. Por isso essa foi uma boa viagem para exercitar isso, como ja conhecia a ilha antes, e por ter tido essa calma conseguir separar momentos para explorar e conhecer partes que ainda não havia conhecido.

Em Noronha existem algumas praias que para ter acesso a elas você precisa pagar um passe extra que dá direito a essas praias, na viagem passada não comprei esse passe, mas dessa vez decidi comprar e ir conhecer essas outras praias.

Mas claro que também esperei o mar dar uma baixada , e fiz o timing certo entre qualidade do mar VS turistar. Aproveitei os moments entre surf para reunir a galera do meu buggy e ir fazer esses programas turísticos.

Isso é algo legal nas viagens dos novatims, você tem a liberdade de fazer seu cronograma também, voce pode seguir o cronograma do surf/Itim, mas tem a liberdade ir fazer outro programa caso prefira, e se tiver outras pessoas com a mesma ideia, é só se juntar e ir lá, sem problemas. Afinal quanto maior o grupo de pessoas menor a probabilidade de todos quererem fazer a mesma coisa, então ter flexibilidade é sempre bem vinda.

Time dos Novatim

E falando em buggy, é outra coisa que eu estava com saudade de Noronha, que para mim é quase como mais um integrante da viajante. As vezes pode te dar dor de cabeça por algum problema mecânico , elétrico ou falta de gasolina, mas isso é um detalhe pois essa são historias que poderemos contar depois e que alimentam o folclore da viagem.

Quero falar do meu lugar favorito depois da Cacimba do Padre, a Praia do Cachorro.

Como sempre fiquei hospedado na vila dos remédios essa é basicamente a praia que conseguimos ir a pé facilmente(tirando a sequência de ladeiras), é perto mas tem o seu custo de energia pra chegar lá, ou seja depois de um dia intenso de surf não recomendo.

Mas vamos pros pontos fortes dela, praticamente deserta, um ótimo lugar pra apreciar a vista e acalmar a mente. Gosto de ir lá sempre que chego em Noronha , parece que só ali cai a ficha que realmente estou na ilha e que muito surf vem aí.

Da pra ter uma noção do tamanho do mar também, tem uma onda que quebra ali no canto direito, mas muito proximo as pedras geralmente, mas da pra ter uma vista das ondas quebrando na praia do meio também.

Dessa vez encerrei a viagem ali também, e desbloqueei mais um item dessa praia: O melhor banho de bica que já tomei. Com uma vista incrível para a praia, pra quem já vivenciou o sol e o calor de Noronha, sabe como é bom se refrescar, após nosso ultimo surf na praia do meio parei ali com outros novatims e a briga foi para irmos embora, por que ninguém queria. Ficará na memória , fica a dica. Esqueci de bater a foto do visual da bica, fica pro proximo ano.

E para encerrar queria falar de uma entidade que não sei se muitas pessoas percebem sua presença , embora passem por ela todo dia.

Falo da Arvore que separa os caminhos na entrada da cacimba do padre. Ela se destaca no final da estrada para a cacimba do padre e senti uma necessidade de começar a pedir benção a ela antes de entrar na cacimba, e também agradecer após o surf. Fiz isso e deu tudo certo nessa trip, só dizendo…

O QUE TROUXE DA VIAGEM

Já estou me delongando demais, e esse post está “atrasado” uns 2 meses praticamente. Mas o sentimento que saio após essa viagem são:

  1. Fomos abençoados mais uma vez com excelentes ondas e muito surf
  2. O buraco é mais em baixo, pra surfar onda tubular tenho um longo caminho ainda, principalmente na questão mental e coragem de botar pra dentro do tubo
  3. Bons momentos, essa viagem foi bem mais tranquila e consegui tanto aproveitar surf e momentos de turistas

Então agora é continuar na missão do tubo, e saio com +1 nível de experiencia em onda casca grossa.

Despedida com o fêssô Itim Silva, e o filmmaker Kaio Ribeiro